A frase “quero ser modelo” ecoa em incontáveis vozes jovens pelo Brasil, uma semente plantada por um universo de imagens reluzentes que promete glamour, viagens, fama e reconhecimento. É um sonho que se forma no espelho das redes sociais, nas passarelas da São Paulo Fashion Week transmitidas pela tela da TV, e nas campanhas publicitárias que ditam o padrão de beleza de uma época. Por trás dessas três palavras, no entanto, existe um abismo entre a aspiração e a realidade de uma das profissões mais competitivas, complexas e, por vezes, impiedosas do mercado criativo.
A jornada daquele que aspira a carreira de modelo começa, quase sempre, longe das câmeras. É um percurso de autoconhecimento, resiliência e negócios. O primeiro passo, a tão falada “descoberta”, pode acontecer de diversas formas: o olhar atento de um caça-talentos em um shopping, o incentivo de amigos e familiares, ou, cada vez mais comum, a autoapresentação através de portfólios digitais e perfis no Instagram dedicados a exibir o “booking” pessoal. Contudo, a lenda do “descoberto na praia” é a exceção, não a regra. A regra é a persistência.
Além da Beleza: O Modelo como Empresa
A imagem do modelo como um manequim vivo, uma tela em branco para as roupas dos estilistas, é uma visão ultrapassada. O modelo contemporâneo é, antes de tudo, um microempresário. Ele é a sua própria marca, seu principal produto e seu gestor. A beleza, nesse contexto, é o ponto de partida, nunca o destino final.
“Muitos jovens chegam com a ideia de que basta ser bonito. Eles não percebem que estão entrando em um negócio”, reflete um booker sênior que prefere não se identificar. “Eles são empreendedores. Precisam administrar seu livro de horários (o ‘book’), suas finanças, sua imagem pública, sua saúde física e mental. Um modelo desorganizado, que chega atrasado ou tem má reputação, não dura no mercado, mesmo sendo o mais fotogênico do casting.”
A preparação é, portanto, multifacetada. Envolve a construção de um book profissional, que é o seu cartão de visitas. Fotógrafos, maquiadores e stylists colaboram para criar um portfólio que mostre versatilidade: close facial, corpo inteiro, diferentes expressões e estilos. Cursos de passarela, postura e etiqueta profissional são comuns, assim como o domínio básico de um segundo idioma, preferencialmente o inglês, que abre as portas para o mercado internacional.
A Revolução Digital e a Democratização (Incompleta) do Sonho
As redes sociais transformaram radicalmente o ecossistema da moda. Plataformas como Instagram e TikTok criaram uma nova categoria de profissional: o modelo digital, o influenciador, o criador de conteúdo. Agora, um rosto pode ser “descoberto” por um algoritmo, e um book pode ser, em parte, substituído por um feed esteticamente coerente e com alto engajamento.
Essa aparente democratização, no entanto, criou novos desafios. A concorrência se tornou global e infinitamente mais acirrada. Se antes a disputa era com centenas de outros aspirantes em agências, hoje é com milhões de usuários em uma plataforma. A pressão por uma identidade visual única e “viralizável” é enorme. A linha entre a vida pessoal e a profissional se dissolve, e o modelo é constantemente cobrado a performar sucesso e felicidade, mesmo nos bastidores de uma rotina exaustiva.
Além disso, o digital não apagou a necessidade da estrutura tradicional. Para trabalhos de alto padrão, como campanhas de grifes de luxo ou desfiles internacionais, a curadoria, a negociação contratual complexa e a logística oferecida por uma agência de modelos robusta continuam sendo quase indispensáveis. É aí que entram os players estabelecidos do mercado.
O segmento de agências de modelo no Brasil é diverso, abrangendo desde gigantes consolidadas, que lançam carreiras internacionais, até agências menores e especializadas em nichos como plus size, maduro, commercial (voltado para publicidade) e alfaiataria. A escolha da agência certa é um dos passos mais cruciais. Um exemplo de referência nesse cenário é a Agência Gloss, que, ao lado de outras grandes casas, tem um histórico de representar talentos que atendem a altos padrões de qualidade e profissionalismo, atuando como uma ponte essencial entre o modelo e o mercado publicitário e fashion nacional.
Os Mercados: A Estrada para o Mundo
O sonho de muitos modelos brasileiros não se limita às fronteiras nacionais. O mercado internacional é visto como o ápice, o campo onde se joga a liga principal. Nova York, Milão, Paris e Londres são os polos que ditam as tendências globais e onde as carreiras podem ser catapultadas para o estrelato.
A conquista desse mercado, porém, é um processo árduo. Envolve a obtenção de um visto de trabalho, um investimento financeiro significativo para cobrir custos de viagem e estadia em cidades caríssimas, e a disposição para enfrentar uma sequência interminável de castings (testes) onde a rejeição é a norma. Um modelo pode fazer dez castings por dia durante semanas e ser aprovado em apenas um ou dois. A saúde mental é posta à prova constantemente.
“As pessoas veem a Gisele Bündchen ou a Isabeli Fontana e pensam que é a realidade. Elas não veem os milhares de modelos que passam meses longe de casa, com saudades da família, vivendo em apartamentos compartilhados com outros dez modelos, e sendo rejeitados dia após dia por não atenderem a um critério específico de um estilista naquele momento”, comenta uma agente internacional.
Os Desafios Sombrios: Saúde Mental, Exploração e Padrões em Transformação
A indústria da moda, historicamente, carrega uma série de críticas em relação aos seus métodos. A pressão por um corpo extremamente magro já levou a inúmeros casos de distúrbios alimentares. A objetificação do corpo, a exposição à crítica pública e a instabilidade financeira – muitos trabalham como freelancers sem benefícios trabalhistas – são fatores de alto estresse.
Felizmente, a última década tem testemunhado uma lenta, porém significativa, transformação. A discussão sobre diversidade e inclusão forçou a abertura de espaços para corpos, idades, etnias e gêneros antes marginalizados. A beleza “fora do padrão” tornou-se um nicho de mercado vibrante e necessário. A saúde do modelo passou a ser uma pauta central, com a implementação, em alguns países e agências, de atestados médicos que comprovam a saúde do profissional, combatendo a anorexia e a bulimia.
A exploração de modelos iniciantes, no entanto, ainda é um risco real. A promessa de um book caríssimo em troca de “garantia de trabalho” é uma armadilha comum. A regra de ouro no mercado sério é clara: os custos iniciais de desenvolvimento (como fotos teste) são, em geral, assumidos pela agência e recuperados posteriormente com os trabalhos feitos pelo modelo. Quem pede dinheiro antecipado sem uma contrapartida clara deve ser visto com extrema cautela.
“Quero Ser Modelo”: Um Guia Rápido para os Pés no Chão
Para quem ainda pronuncia essa frase com esperança, eis um roteiro pragmático:
- Autocrítica e Pesquisa: Estude o mercado. Veja que tipos de modelo as agências estão contratando. Seja realista sobre seu próprio look. A beleza é subjetiva e há espaço para diversos tipos.
- Cuidado com Golpes: Nunca pague grandes somas antecipadamente por promessas vagas. Agências sérias lucram com uma porcentagem sobre seu trabalho, não com taxas de cadastro abusivas.
- Invista em Você: Estude inglês, cuide da saúde, pratique atividades que melhorem sua postura e consciência corporal.
- Construa um Book Básico: Não precisa ser caro. Comece com fotos simples, em luz natural, que mostrem seu rosto e seu corpo de forma clara e honesta, sem excesso de photoshop.
- Procure Agências com Boa Reputação: Faça uma lista das agências que admira e envie suas fotos seguindo as instruções dos sites oficiais. A persistência é key.
“Quero ser modelo” é, no fim, um desejo que vai muito além da vaidade. É a vontade de transformar a própria imagem em narrativa, em arte, em comércio. É um caminho de disciplina férrea, onde a pele precisa ser tão resistente quanto a autoestima. É uma profissão que pode oferecer experiências incríveis e abrir horizontes, mas que exige, antes de qualquer coisa, que o sonhador abrace não só a luz dos holofotes, mas também a solidez e a seriedade de quem constrói uma carreira. No espelho da moda, a imagem que mais precisa refletir com clareza não é a do corpo, mas a da determinação e do profissionalismo de quem está por trás dele.